Estou prestes a ser pai e não tenho qualquer dúvida de que vou vacinar o
meu filho. Portanto, a pergunta põe-se, porque é que há alguém neste
mundo, com dois dedos de testa, apologista da não vacinação? É tão
estranho para mim que ao mesmo tempo se torna interessante tentar
perceber a lógica destas pessoas.
Contrariamente do que se possa pensar, existem muitas pessoas com
formação académica superior e mesmo nas áreas das ciências médicas a
defender a não vacinação, por isso, não é apenas uma questão de
ignorância, no entanto, pode ser uma questão de desinformação.
De facto, existem alguns estudos que por uma razão ou outra tiveram
algum impacto noticioso que ligam algumas vacinas a problemas como o
autismo. Esta é um dos argumentos fortes dos defensores desta “corrente”
que pode ser facilmente desmontado.
Todos os estudos publicados com este tipo de conclusões foram entretanto
repudiados por manifestas faltas de rigor, por outro lado, a questão da
“bolha noticiosa” também aqui se coloca, e do problema que se gera entre
a missão de informar versus o objectivo de vender jornais. Se por um
lado publicam-se noticias com os referidos estudos, por outro não se tem
o cuidado de publicar notícias com os estudos que os desprovam, ou
mesmo, com os outros centenas de estudos que comprovam que os riscos
das vacinas são em geral muito inferiores ao seus potenciais
benefícios.
Não pretendo aqui cair no outro lado do espectro e dizer que não existem
riscos associados às vacinas. Existem riscos, mas são muito mais
reduzidos do que o risco de colocar uma criança num carro.
Outro argumento dos apoiantes é de que já não existe a necessidade de
vacinas, pois as doenças foram erradicadas. É um argumento falacioso,
pois inverte a verdade, as doenças foram erradicas porque existem as
vacinas, quando elas deixarem de existir, as doenças podem voltar. De
facto as doenças nunca são verdadeiramente erradicadas, a quantidade de
agentes patológicos no mundo é imensa e em muitos casos a vacinação
previne doenças que de outro modo seriam fatais a quase 100% dos
indivíduos infectados (pior do que a taxa de mortalidade do ébola, vejam
o caso da raiva).
Por outro lado é preciso perceber que a vacinação faz parte de uma forma
de saúde populacional. Passo a explicar, as vacinas não possuem uma
eficácia 100% para o indivíduo essa eficácia é atingida quando uma
grande parte da população está vacinada, o que impede o surgimento das
epidemias. Todos os anos este exercício é realizado para se minimizar os
efeitos da gripe sazonal.
Deste modo, quando alguém diz: “não! eu não quero vacinas! os meus
filhos não vão ser vacinados!”, está efectivamente a cometer uma escolha
de não cidadania, pois na realidade o seus filhos vão ficar protegidos
através dos riscos dos outros. Mas se um determinado número de pessoas
toma uma decisão semelhante, todos ficam com um maior risco de morrer. É
egoísmo, não cidadania, é precisamente o oposto do porque as pessoas se
organizaram em sociedades, porque os peixes se organizam em cardumes e
as ovelhas em rebanhos. É ilógico! É estúpido.
Mas ainda assim, assumindo que todos os meus argumentos estão errados,
como é que seria o mundo sem vacinas? Nem todos tiveram a sorte de
nascer num país como Portugal. Essas pessoas se lhes fosse dada a
escolha, escolheriam as vacinas. A Organização Mundial de Saúde estima
que, ainda nos dias de hoje, cerca de 1.500.000 de crianças morrem de
doenças que podiam ser prevenidas através da vacinação. A próxima pode
ser a sua, pense bem.