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A (i)lógica da não vacinação

Posted at — Mar 28, 2015

Estou prestes a ser pai e não tenho qualquer dúvida de que vou vacinar o

meu filho. Portanto, a pergunta põe-se, porque é que há alguém neste

mundo, com dois dedos de testa, apologista da não vacinação? É tão

estranho para mim que ao mesmo tempo se torna interessante tentar

perceber a lógica destas pessoas.

Contrariamente do que se possa pensar, existem muitas pessoas com

formação académica superior e mesmo nas áreas das ciências médicas a

defender a não vacinação, por isso, não é apenas uma questão de

ignorância, no entanto, pode ser uma questão de desinformação.

De facto, existem alguns estudos que por uma razão ou outra tiveram

algum impacto noticioso que ligam algumas vacinas a problemas como o

autismo. Esta é um dos argumentos fortes dos defensores desta “corrente”

que pode ser facilmente desmontado.

Todos os estudos publicados com este tipo de conclusões foram entretanto

repudiados por manifestas faltas de rigor, por outro lado, a questão da

“bolha noticiosa” também aqui se coloca, e do problema que se gera entre

a missão de informar versus o objectivo de vender jornais. Se por um

lado publicam-se noticias com os referidos estudos, por outro não se tem

o cuidado de publicar notícias com os estudos que os desprovam, ou

mesmo, com os outros centenas de estudos  que comprovam que os riscos

das vacinas são em geral muito inferiores ao seus potenciais

benefícios.

Não pretendo aqui cair no outro lado do espectro e dizer que não existem

riscos associados às vacinas. Existem riscos, mas são muito mais

reduzidos do que o risco de colocar uma criança num carro.

Outro argumento dos apoiantes é de que já não existe a necessidade de

vacinas, pois as doenças foram erradicadas. É um argumento falacioso,

pois inverte a verdade, as doenças foram erradicas porque existem as

vacinas, quando elas deixarem de existir, as doenças podem voltar. De

facto as doenças nunca são verdadeiramente erradicadas, a quantidade de

agentes patológicos no mundo é imensa e em muitos casos a vacinação

previne doenças que de outro modo seriam fatais a quase 100% dos

indivíduos infectados (pior do que a taxa de mortalidade do ébola, vejam

o caso da raiva).

Por outro lado é preciso perceber que a vacinação faz parte de uma forma

de saúde populacional. Passo a explicar, as vacinas não possuem uma

eficácia 100% para o indivíduo essa eficácia é atingida quando uma

grande parte da população está vacinada, o que impede o surgimento das

epidemias. Todos os anos este exercício é realizado para se minimizar os

efeitos da gripe sazonal.

Deste modo, quando alguém diz: “não! eu não quero vacinas! os meus

filhos não vão ser vacinados!”, está efectivamente a cometer uma escolha

de não cidadania, pois na realidade o seus filhos vão ficar protegidos

através dos riscos dos outros. Mas se um determinado número de pessoas

toma uma decisão semelhante, todos ficam com um maior risco de morrer. É

egoísmo, não cidadania, é precisamente o oposto do porque as pessoas se

organizaram em sociedades, porque os peixes se organizam em cardumes e

as ovelhas em rebanhos. É ilógico! É estúpido.

Mas ainda assim, assumindo que todos os meus argumentos estão errados,

como é que seria o mundo sem vacinas? Nem todos tiveram a sorte de

nascer num país como Portugal. Essas pessoas se lhes fosse dada a

escolha, escolheriam as vacinas. A Organização Mundial de Saúde estima

que, ainda nos dias de hoje, cerca de 1.500.000 de crianças morrem de

doenças que podiam ser prevenidas através da vacinação. A próxima pode

ser a sua, pense bem.