Stephen Hawking escreveu, a filosofia está morta! A física teórica tem vindo a explorar não só os limites do conhecimento humano mas também a alterar a forma como encaramos a nossa vida, o mundo à nossa volta e o universo.
Físicos usam o seu tempo a procurar modelos matemáticos que expliquem como o universo se comporta e como podem subverter as suas regras para benefícios dos nossos interesses, nós sempre adorámos ver a natureza vergar-se perante a nossa vontade.
A maior parte das pessoas não compreendem o poder desta simples ideia, um modelo. Não é muito diferente dos modelos nas vitrinas das lojas, vemos-los todos os dias, tentam imitar um ser humano mas mas falham nos pormenores. Não existem quadrados, não existem círculos, em tudo existe o que a generalidade das pessoas chamaria imperfeições, é o que distingue os nossos modelos da realidade.
Nós, o nosso cérebro é o mestre da construção dos modelos. O que vemos não passa de um modelo da luz que chega aos nossos olhos, por isso é que construímos telescópicos, câmaras infravermelhas, microscópicos etc… Modelos são um elemento essencial do desenvolvimento do conhecimento e da evolução das nossas sociedades, em último caso, é a forma como cada um de nós interpreta o mundo à sua volta.
Entropia é um conceito por vezes difícil de compreender e de explicar, mas incrivelmente poderoso. O conhecimento da sua simples noção pode alterar significativamente a forma como encaramos o que ocorre à nossa volta, o nosso modelo do mundo.
A maioria das pessoas desconhece o que é a entropia ou se conhece a palavra, não sabe ou não consegue explicar o que realmente representa e muito menos tem noção da importância que este tem no nosso dia-a-dia.
Entropia é em primeiro lugar uma medida física quantificável, e é usualmente introduzida, na educação cientifica corrente, através da segunda lei da termodinâmica:
“Num sistema fechado a entropia nunca diminui”.
Mas o que é que realmente mede? Significa? Quando falamos de comprimentos, temperaturas ou de pesos as sabemos o que isso significa e o que são (será?!), são coisas palpáveis, mas com a entropia é diferente.
Entropia é uma medida de desordem!
Para explicar como a entropia se manifesta convém primeiro explicar o que se entende por “sistema fechado”.
Um sistema é qualquer coisa cujas fronteiras podem ser bem definidas, de modo a que se saiba o que entra e saí do sistema. Portanto, um sistema pode ser uma bactéria, uma qualquer substância num recipiente, um braço, um carro, um motor, uma pessoa, um país, um planeta ou o universo, qualquer coisa. Um sistema fechado é qualquer sistema em que nada passa pelas suas fronteiras, nada entra e nada sai. Dos exemplos dados, apenas o universo se pode considerar um sistema naturalmente fechado, no sentido estritamente científico do termo, mas…. nunca se sabe!
Isto é extremamente poderoso, numa coisa qualquer isolada a sua entropia ou a sua desordem nunca diminui. Portanto, uma coisa qualquer nunca poderá melhorar por si mesma…
Como é que isto tudo se manifesta? Peguem num baralho de cartas e deixem-no cair no chão. Claramente o grau de desordem das cartas aumentou, a entropia aumentou e só volta ao estado inicial quando tivermos que pegar nas cartas e arrumar o baralho, ou seja, quando introduzirmos trabalho, energia no sistema baralho de cartas, para reduzir a sua entropia.
Nós naturalmente esperamos que as cartas se desorganizem quando o baralho cai no chão, mas não achamos normal se as cartas desorganizadas voltarem para dentro da caixa sozinhas . Instintivamente todos nós percebemos quando existem variações de entropia.
Se introduzirmos energia às cartas para reduzir a entropia e se no universo, sendo um sistema fechado, esta nunca diminui, o que é que acontece à nossa entropia?! Se, ao invés de considerarmos o sistema o baralho de cartas, mas sim o baralho de cartas + cada um de vocês, a análise é mais interessante….
A nossa entropia muda constantemente, nós envelhecemos e isso pode ser encarado como a consequência do aumento de entropia do nosso corpo, o aumento da nossa desordem. Na verdade, esta noção é tão poderosa que actualmente o aumento de entropia é a única evidência física que conhecemos que nos dá a sensação do fluir do tempo num determinado sentido.
Se virmos um filme de trás para a frente, vemos que algumas coisas nos parecem impossíveis, como a água voltar para dentro de um copo, mas pessoas a andar para trás, apesar de invulgar, não é impossível e por isso não podemos com isso concluir que estamos a ver um filme em sentido contrário. Os eventos com um aumento da entropia evidente são os que nos dão a noção do sentido do fluir do tempo.
A noção de entropia extremamente poderosa e pode ser aplicada fora do âmbito científico da física, como modelo para percebermos inúmeros fenómenos das nossas vidas quotidianas. Pessoalmente, gosto de aplicá-la ao comportamento das sociedades ou entidades colectivas, pensem em empresas, governos, países, o mundo… Apesar de ser difícil definir as fronteiras destes sistemas, podemos sempre fazer algumas considerações com base numa noção simples e generalizada de entropia.
Todas as empresas, nascem e morrem, a não ser que se consigam reinventar. Uma frase muito utilizada no meio da economia e gestão. Neste contexto, reinventar terá que ser um grande processo de diminuição da “entropia”, através da realização de um enorme trabalho sobre o sistema empresa, com novas pessoas, nova estrutura, novos processos etc… Pensem na importância da formação contínua externa dos trabalhadores de uma empresa, da função pública, nas auditorias, nas reestruturações, pensem em remodelações de governos, a evolução da opinião pública, equipas de futebol, o “choque psicológico”, são todos exemplos de processos que visam diminuir a entropia do respectivo sistema.
Não é difícil encontrarmos exemplos onde o conceito de entropia pode ser aplicado. Com esta ferramenta conceptual podemos identificar os mecanismos e processos que levam ao aumento da nossa desordem geral. Rapidamente nos apercebemos que a desorganização, a ineficiência e a degradação nem sempre possuem uma única grande causa, são sim o resultado de um conjunto de pormenores que podem ser mitigados com o trabalho adequado. Trabalho, como em tudo, é a palavra-chave.